Caros amigos

A história que tenho para vos contar tem como objectivo despertar consciências e abrir os corações para a realidade. Nada tem a ver com números ou estatísticas e nem sequer é de caracter informativo. Esta história visa, antes de tudo, as pessoas: os pobres e aqueles que trabalham para os salvar; aqueles que acompanham o dia-a-dia dos que nada têm e lhes trazem esperança, contribuindo para que se testemunhem verdadeiros milagres na vida dos que por aqui passam.

Tenho 45 anos, sou casado, tenho 4 filhos, sou empresário e fui um destes pobres que estamos habituados a ver nos parques de estacionamento, à espera que “caiam” os primeiros trocos para mais uma dose. Digo “fui pobre” porque não há dinheiro nenhum que pague a riqueza do que tenho hoje e que em tudo se deve ao encontro que fiz em Janeiro de 2001 com a Associação Vale de Acór, numa altura em que nada mais tinha a perder. Na verdade, o Vale de Acór foi mesmo a porta de esperança que me abriu novos caminhos para a vida.

Aprendi aqui, com estas pessoas, o auto-conhecimento, a relacionar-me com os outros, a reconstruir as relações familiares, a encontrar soluções para os problemas do dia à dia, enfim, aprendi uma forma totalmente renovada de enfrentar a vida sem a necessidade de adictivos (álcool, drogas, etc.), que me deu a segurança e a confiança necessária para construir tudo o que tenho hoje.

Passados 20 meses de programa, comecei a trabalhar e pude começar assim a pagar as dívidas que tinha acumulado ao longo de 15 anos, créditos, fianças, empréstimos pessoais, entre outros. Demorei 4 anos a pagar tudo, ao mesmo tempo que pagava também algumas “dívidas morais”; os meus pais que tanto tinham sofrido, podiam finalmente sentir-se ajudados por mim, (que milagre!).

Pude reatar a relação com as minhas duas filhas, fruto de duas relações fortuitas num período muito negativo da minha vida. A mais velha, visitava-me quando ainda estava na comunidade, e a mais nova, que vive com a mãe no estrangeiro, viria eu a visitá-la durante o período de reinserção, e mais tarde começou ela a vir a Portugal regularmente nas férias.

Com o Vale de Acór tornei-me cristão e fui baptizado aos 34 anos de idade. Com a segurança necessária e a vida encaminhada, fui graduado (final do programa terapêutico) a 4 de Março de 2004.

Como Deus não se esgota em generosidade, pouco tempo depois, aconteceu o que há muito desejava: conheci a mulher da minha vida, com quem pude construir a minha própria família. Casei e tive 2 filhos, sendo que o mais pequenino é autista. O que poderia ter sido para nós um drama, tem sido uma Graça nas nossas vidas. Hoje com apenas 4 anos, o nosso filho ensina-nos muito: na perseverança, na paciência, na caridade, na esperança, enfim, o Amor. Ele é o elo mais forte que nos liga à vida. Nunca deixei de ir “beber água” a este Vale de Esperança que me devolveu à vida e onde mantenho os amigos, os padrinhos, os conselheiros e todos aqueles de quem preciso para me lembrar de onde vim, onde estou e para onde desejo ir.

Embora seja mais cómoda a “discrição”, conto a minha história porque é urgente acreditar que é possível a mudança e a recuperação. Mas sozinhos não somos capazes. É preciso ajuda. Ajuda de quem o saiba fazer com profissionalismo e dedicação, mas sobretudo com amor. E é assim que se trabalha no Vale de Acór.

O Vale de Acór precisa do seu apoio. Ajude-o a ajudar quem mais precisa!

Obrigado.

  • Residente graduado a 1.3.2004

Mais testemunhos:

  • Maria Durão +

    Caros Amigos Maria Durão, vocalista dos Simplus, trabalha actualmente no Vale de Acór onde acompanha toxicodependentes e alcoólicos em recuperação. É um mundo onde a misericórdia se vê em cada olhar. Maria Durão - Vocalista dos Simplus - 2016 Saber mais
  • Sofia Gouveia Pereira +

    Caros Amigos Trabalho num escritório de advogados. Sou amiga do Vale de Acór há muitos anos. É um gosto ir àquela casa. Sinto que as pessoas de lá são amigos próximos, para além das meras afinidades habituais. Depois, é um sítio bonito, cuidado, onde apetece estar. Na verdade, nunca me senti longe daqueles rapazes e raparigas, pois podia ser eu, Saber mais
  • Pedro R. +

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  • José A. +

    Nasci no dia 8 de Setembro de 1961. Tenho hoje 47 anos. Cerca de 18 anos da minha vida, quase metade, foram vividos na prisão. Apanhei a primeira bebedeira com 7 anos. Com 10 anos bebia regularmente. Comecei a consumir drogas com 14 anos. Com 17 estava agarrado às drogas duras. Abril 1978, 16 anos, Espanha. Fui preso pela 1ª Saber mais
  • Comunidade do Noviciado dos Jesuítas +

    “Um vale é muito mais que um nicho esgravatado na terra. Assim afundado nessa paliçada de pedra, o homem pode descobrir essa outra defesa que é ter raízes no céu, mais que na rocha. Estendido no colo do chão, o homem vê-se levantado para lá do pó de si. Com diria o nosso Xavier: “Para Deus sobe-se descendo”. Obrigado por Saber mais
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